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domingo, 26 de setembro de 2010

[Acidez feminina] Via Dolorosa

Com mulher vingativa, melhor não brincar. Talvez seja mais sensato dizer: com mulher, melhor não brincar. Posto que nunca se sabe que natureza a vigança poderá despertá-las, como bem mostrou Clarice na via crucis do corpo. Sim, somos todas amor.

Cada uma a seu modo. Umas são amor de carne, outras de espírito. Espírito brando e depois espírito amargo. Nesse ponto, as de carne certamente darão menos trabalho. Porém estas não são eternas... E todos, no fundo, querem os amores de alma. De laços. Com a esperança de duração prolongada talvez.

Ocorre que quase a totalidade dos homens deseja esse tal amor eterno, com toda sua alma. Com a mesma gana, deseja também um outro corpo e ainda outra amada de espírito. Ah, e mais duas ou três, quem sabe, se for capaz... conforme der conta.

Desconhecem o risco da indecisão: Impulsivamente agem, inocentemente pedem perdão, inutilmente acreditam que o alcançaram. Tão espertos para envolver vários amores, deveriam bem saber que neles não se deve confiar - principalmente em casos de não merecimento da confiança.

Chamemos de 'erro de xavier' (e não foi esse o erro do Xavier?). Foi, e não o único: acreditou tão piamente (ou pouco se importou), que o mesmo insulto voltou a praticar. Sem solução para o caso, enquanto dormia encontrou a morte (que lhe foi apresentada por seus amores maiores) e nem disso se deu conta. Não disse nada, nem se defendeu, que não houve tempo.

E elas? É certo que amam de fato, com força. Com a mesma força matam. Sem vontade de conter sangue algum escorrido (na verdade, por vezes pensam que o contrário nem faria tanto mal - um pouco de sangue espalhado, formando uma estampa bonita ou espirrando como um regar de plantas). Sem se preocupar com forma. Sem ao menos cerrar os olhos.

Ainda, com sincero pesar carregam: o corpo de chumbo, os próprios corpos, os vestidos negros, as lágrimas nos olhos, as lágrimas nos céus. Levam flores que lembram da vida, do chão bom e do amor. Uma justiça feita. Talvez não a da Terra, nem a divina - mas de mãos [femininas]... com uma enorme dor de coração desembainhada: apontando para cima e desorientada. Doída.


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Para ler: O Corpo (A Via Crucis do Corpo) Clarice Lispector

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