Espaço dedicado a compartilhar expressões, reflexos e meras impressões através de textos, desenhos ou fotografias.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

De mim afora

Pudera, já senti cansaço tamanho e profundo que precisei vir ao âmago da palavra,
assim como ela encontrou em mim o cerne, numa série de males que me diminuem a consciência.
Nesse sentido, nesse segundo, sou indiferente. Sonolenta e apática: letarga.
Daí evoluem tais maldades, de causa simples - intensidade
Em viver,
em salvar,
em querer
sem colher
resultado que valha. "Ai, calor nos músculos e dor nos ossos". Já não vejo capacidade de continuar, já não quero. "Devolvam meu demasiado esforço, que falta me faz!"
Cansado, aprendi, é aquilo que se diz a respeito de um solo pouco produtivo por haver suportado culturas demais.
Hoje, o tal solo me tem por nome
E suportei
desenraizei,
quis destruir as pragas
Sem importar saber quem assentou,
quem arrancou.
(Qualquer desses agora seriam mãos estranhas e malvindas)
A chuvas, porém, têm ainda seu habitual acesso, pois tenho amor às águas
Assim espero que venham
Que me livrem;
que me levem
E ciclo se renove:
"Outras coisas, nasçam!"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Conforme o ponto de vista

Surgem sem parar as imagens listradas
rosto sim - rosto não
cor sim- cor não
A metade de um sorriso
e outro gesto interrompido

Uma meia face de tristeza.
Mas a lágrima vem inteira [por ser pequena, é completa. Completa e dolorosa]
Ali são muitos, não? Se apertam, mas parecem não ligar
São muitos. São apertados e são felizes.

Penso eu na liberdade, e depois, nas tais listras que os isolam
Lá, exites o 'eles'
O 'nós' separado está - por barras dividido
E eu aqui

Mas espere! De repente me ocorre que (talvez) também eles observem o outro lado
e o que vêem? Eu. Uma só... ou em imagem fatiada?
no espaço amplo, sem conversa e sem sombra
Julgarão ter encontrado fragmentos de alguém
num monocromático profundo

Podem bem pensar com piedade
sobre a mesma liberdade que (antes) pensava eu,
me vendo ali encerrada
Quem apontará primeiro 'vejam do outro lado, a privação'?
Ou gritará 'agradeço por ser livre'!
Importa que, agora percebo: nos dois lados há prisão

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Verdade do dia: Alguém sempre decepa alguém

Não gosto de usar em excesso o 'sempre', 'tudo', 'nada', mas em especial o 'sempre'.
O que generaliza e classifica por atacado não pode ser bom. É certeza de erro.

Mas há exceção: Para uma frase achei o uso do sempre que não incomoda, "Alguém sempre decepciona alguém". Não vejo margem de erro possível nesse caso, uma vez que pessoas decepcionam e se decepcionam. Não há uma só vida em que isso não tennha sido verdade n'algum momento. Não há quem nunca decepcionou outro.

Significa enganar; desiludir, o que podemos considerar parte do comportamento humano e da vida compartilhada. Há porém os que vão além, os que teimam decepar.

Refaço a frase: "Alguém sempre decepa alguém"

Quer dizer que, desiludir, frustrar, não basta a determinados grupos de pessoas. Elas encontram prazer em cortar, separar do corpo de que faz parte: decepar um braço.
Interromper; truncar.
Privar da vida; abater.
Amputar, mutilar.
Desunir, desligar.

Uns nos decepcionam
Uns nos decepam
Outros, numa combinação doída, com suas decepções nos decepam
Para quase sempre

quinta-feira, 5 de maio de 2011

X MUTE mode

Hoje não teve despertador
não teve buzina
nem todos os bipes que fazem parte da banda diária

Hoje não teve voz
nem toque de telefone
Não teve riso, só dente
Os choros também faltaram

Não houve passo no corredor
ou burburinho nos espaços
Nem houve trilha sonora...
Era tudo sem legenda

Mas eu não estou surdo
É que o mundo ficou mudo
e não entendo seus sinais

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Relato de bordo I

À bússola desorientada
o rumo certo não ajuda
Primeiro, que é rumo?
Depois, que é certo?

Posto que, ainda, após
um caminho percorrido sem glória
nem êxito
ao mesmo ponto inicial se retorna
Digo, não exatamente o mesmo
Mas é um zero. Outro

Então mala pronta de novo
porém recheada com maturidade maior
E em lugar de expectativa, experiência;
De devaneio, realidade;

Como dizia, que raio de bússola desorientada!
Sem parâmetro ou padrão
Nem se pode dizer 'Para o Norte!' ou
'Ao Norte não!'
Pois, que é norte?
Onde está?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Caso à parte

Quer o tempo todo
Ocupar minha mente
Com declarações
Preocupo
Voce faz

O tempo todo

Quero entender como funciona
E me diz o que quer, que quer
- Não argumento

Diz que sou sua parte; à parte.
Que quando fico não há tempo
Pede. E fico
Mas não sei se fico...

Fico?

Assim numa noite
sem nada esperar
Voce surgia num céu aos poucos
Aos poucos, também me triscava

segunda-feira, 14 de março de 2011

Ultra Vitam (para além da vida)

Buscou sempre um amor
primeiro inocente
e passageiro
Depois permanente
Lisonjeiro.
Buscou um amor pra toda a vida

Viveu de amor.
De ingênuo a maduro
em flor perfumado
um amor seguro

Viu aventura, esbarrou na paixão
notou que o amor não basta, se não
abrir fechaduras e desatar amarras.
Se não explodir dois mundos, formando novo

Amor pra toda vida conheceu
Assim, pois, descobriu o que buscava:
era também amor, ainda maior
Para além da vida...
E esse, teve sensação de que em segundo único
Deixou escapar

segunda-feira, 7 de março de 2011

Em memória

Dia a dia distantes
nos fazemos presentes
cada gesto singelo
Vem
Com imensas lembranças
e montagens de nós
assim, outra vez
Nos temos
Em memória do outro
sem arrependimento
É um tanto de graça
um tanto de carinho
de bons sentimentos
tanto de abuso...
E o que tanto de todas estas coisas pode ser
Senão amor?
Quando até o que foi ruim fez memória
aparou arestas
Ficou mais forte, não de força, mas de maturidade
outras vezes ficou mais cego, mais surdo
Ainda assim sempre houve entendimento
O que tanto aprendizado,
choques e faíscas
O que tanto desgosto, sem desistir, pode ser
Senão amor?
E sobre tudo, é tudo sobre
adrenalina - dentro e fora do corpo
Explosão de detalhes:
A inclinação da cabeça
O repousar da mão
O piscar sereno...
As mãos nos bolsos
O rosto nas costas
O rosto nas mãos.
Um caminho com chuva
O abraço apertado
O beijo roubado
Um sorriso contido
Um choro secreto e
Um desejo escondido
Que será tudo isso, senão amor?
Se não for, provo que amor desconheço
Se não for, provo que sua definição não sei
Por outro lado, se for, nele me alegrei
E não questiono o tipo
Descobir-se amor já é árduo o suficiente
sem como, nem por quê
basta saber: nele sou feliz

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Mentira de verdade

Existem histórias tão bem inventadas, que nós mesmos passamos a crê-las.

Nós a fazemos
Convencemos outro de que a vivemos
Passamos a agir como se tivéssemos vivido

E com a crença no histórico montado, nos esforçamos por perpetuá-la dia após dia.

Vez ou outra surge uma alma piedosa e insistente de nos trazer à luz, à toda realidade, à libertação.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Feliz erro Novo

Observo as pessoas, como agem, se expressam e se relacionam. É interessante. Algumas coisas são curiosas, outras parecem não fazer o menor sentido e nem merecem explicação. A todo tempo desenvolvemos hábitos, manias e vícios - em tudo. Cada qual com maneira própria de interagir com o mundo.

Nesses laboratórios me surgem inúmeros questionamentos, o que já é natural de mim; o que já é natural dos laboratórios. Não há lógica, por exemplo, para a necessidade (só pode ser uma necessidade) que as pessoas têm de vivenciar sempre os mesmos erros. Uma vez e duas... não só isso: várias vezes, como um ciclo. Parece um vício, como se a vida acabasse sem o erro. Ou talvez, para elas, simplesmente não haja equívoco algum.

É como se o mesmo papel fosse interpretado diariamente, com o mesmo enredo e ainda assim o intérprete, tão envolvido, se recusa a enxergar que já conhece o fim e alimenta as mesmas esperanças de seu personagem. Quem olha tudo isso como a um filme, vê de forma diferente quem sabe mais coerente e pela repetição já diz o final. Acontece que o que está em cena ignora o alerta, por querer no fundo passar toda a antiga dor outra vez. Pode ser que o prazer disso esteja na falsa possibilidade de um final diferente, a despepeito de toda experência passada.

Cada um com suas manias, é direito. Porque resmungam então de suas dores, de corações partidos, se é isso mesmo que querem e os faz feliz? Somos realmente contradítórios e não objetivos, é fato. Chega a ser cansativo, por isso não mais levarei em conta: deixemos que resmunguem, que vivam os pedaços 'felizes' de suas ilusões, que sofram e chorem (distantes de nós, para que não aturemos sempre a mesma ladainha, claro) e... pronto! Tudo outra vez. Ah, ninguém vai morrer... não por isso.

Quem sabe seja mesmo o que as pessoas buscam: morrer de dor, morrer de amor. Pois não daremos tanta importância - Não darei. Dos outros não sei, quanto a mim decidi romper agora aqueles meus vícios... Provavelmente terei desenvolvido outros antes que perceba. Ao menos serão novos, que os mesmos - argh, não aguento mais. Os que vivi deixarei repousados, vez na vida outra na morte tirarei deles o pó para relembrar as lições que me trouxeram.

Somos imperfeitos, nisso fazemos nossos caminhos. Sim, sem dúvida erraremos. E se falhar faz parte, ora, que seja em coisa nova e não na mesma de sempre; nem na mesma época do ano ou área da vida. Perspicaz é o que observa que o mal da repetição é a impressão de igualdade; é quem vê que, apesar de situações semelhantes e os mesmos costumes, nunca somos os mesmos. Cada fase, cada idade e cada maturidade trazem em si experiências novas - com erros novos, que também merecem ser vividos.

Dos próximos que escolhem permanecer vivendo no mesmo círculo torto, finjo não ver. De mim, o que foi, guardei. Manter vícios antigos é opcional e se há quem prefira assim não direi que mudar seria melhor, assim como não mais os assistirei. Morrer de dor, morrer de amor... Pode até ser o que as pessoas buscam. Eu? Só desejo morrer de tanto viver.